terça-feira, 19 de junho de 2012

RAUL BARROS DA CARRAPATEIRAS, CONTADOR DE HISTÓRIAS E ESTÓRIAS!



Raul Barros da Carrapateiras gostava de contar histórias. E contava histórias todos os dias. Raul Barros da Carrapateiras também gostava de contar estórias. E também contava estórias todos os dias. No dia em que Raul Barros da Carrapateiras não contava histórias e estórias era porque naquele dia não havia pessoas para escutá-lo. Mas Raul Barros da Carrapateiras sempre tinha pessoas para lhe fazer companhia. Tinha sempre Dona Maria e Renê ao seu lado! Tinha Ivone e Erivan com seus filhos! Tinha seus sobrinhos Célia, Fátima, Ieda, Edna, Socorro e Júnior Barros! Tinha toda sua família! De modo que todos os dias Raul Barros da Carrapateiras tinha histórias e estórias para contar. E de vez em quando Raul Barros da Carrapateiras contava com a presença de amigos. E vez por outra aparecia na Carrapateiras Beto filho de Seu João das Vacas e Dona Terezinha de Chico Contente casado com Maria de Mané Pereira Troncho! E tome histórias e estórias!

Nas histórias que Raul Barros da Carrapateiras contava a genealogia estava sempre presente. E Raul Barros da Carrapateiras falava das famílias e sempre provava que todos ao seu redor eram parentes entre si. Nas histórias que Raul Barros da Carrapateiras contava havia bailes nos sítios vizinhos e uma puxada a cavalo de mais ou menos umas vinte léguas! Nas histórias que Raul Barros da Carrapateiras contava havia filhos bastardos! Havia encomendas para realizar um serviço! Havia coiteiros de cangaceiros! Havia padres rezando fora de hora na casa da carola! Havia sacristão tomando dízimo em empréstimo ao padroeiro! Havia tudo o que se possa imaginar dos costumes das famílias do sertão do seridó nas histórias que Raul Barros da Carrapateiras contava!

Nas estórias que Raul Barros da Carrapateiras contava sempre aparecia um caboclo disposto, capaz de amansar o mais bravio dos touros, de enfrentar onças, guaxinins, cobras cascavéis e jararacas ou quem quer que se metesse a besta na sua frente! Nas estórias que Raul Barros da Carrapateiras contava havia malassombros! Havia botijas cheias de moedas de ouro arrancadas por cabra macho que não tinha medo de alma! E havia caçadas nas luas cheias!

E nas histórias e estórias que Raul Barros da Carrapateiras contava sempre a companhia de um tamborete e seu cigarro de palha e uma xícara de café preparado por Dona Maria. Perna cruzada e estética esguia, Raul Barros da Carrapateiras era puro charme! Voz pausada parecia escolher cada palavra para que se harmonizasse nas histórias e estórias contadas. E sua narrativa impressionava pela contextualização! E sua memória invejada quem o escutava!

Nesta madrugada de 19 de abril de 2012, Raul Barros da Carrapateiras parou de contar histórias e estórias na Carrapateiras. E não foi por causa da ausência de pessoas para escutá-lo. Raul Barros da Carrapateiras atendeu a uma convocação inadiável e irrecusável! Uma convocação vinda em forma de luz da morada do Grande Arquiteto do Universo! Uma convocação para contar histórias e estórias longe da Carrapateiras, porque o Céu estava rogando a companhia do Cervantes do Sertão do Seridó! E Raul Barros da Carrapateiras arrumou sua paz e se foi para encantar anjos com suas histórias e estórias!

E agora, que faremos de nossos ouvidos sem você, Raul Barros da Carrapateiras? Quem irá contar as histórias e estórias que só você, Raul Barros da Carrapateiras, contou ao longo desses três quarto de século? Já sei, quando chegar à Carrapateiras, pedirei a Renê, Ivone e Dona Maria que me contem a História da Vida de Raul Barros da Carrapateiras. Assim terei novamente as histórias e estórias e Raul Barros da Carrapateiras!

E que Deus, autor da convocação, tenha-lhe eternamente ao seu lado e ouça com atenção as histórias e estórias por ti contadas aos seus irmãos terrenos, Raul Barros da Carrapateiras!

Autor: Gilberto Costa

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