por Jair Elói de Souza
As manhãs de setembro, o canto gregoriano
nos missais de domingo, o cênico de florais do altar de Nossa Senhora dos
Aflitos, o tom de rebeldia quando alguém tocava a cidadela de sua vaidade na
organização dos eventos sociais, são a marca desse ilustre caboclo puxado na
cor, chamado Aguinaldo. Ser de memória e lembranças marcantes, alma de devoção
e cumplicidade a tudo que se dedicava. A vida do bulir, do movimentar, do tomar
parte, de concorrer, de disputar, era seu palco. Empreendedor, inteligente, vida
dedicada inteiramente a nossa Jardim. Nutria Indomável amor telúrico, fazia o
seu gosto predileto e expansivo nas causas em defesa da terra. Promotor de
eventos, cantor, agente de fazer a hora.
Aguinaldo não se intimidava com sua origem
pobre. Desbravava o mar tenebroso do preconceito social e racial, irrequieto,
amante do desafio, adereçava sua alma com o canto, com a encenação. Adorava o
glamour dos desfiles, dos certames em palco, como: “A mais bela voz do Seridó”,
versão cabocla dos concursos de calouros nos grandes canais da televisão
brasileira, uma estação da descoberta de talentos nas terras dos ipês amarelos.
O mundo do entretenimento, por alguns anos em Jardim, tinha a marca, o
encaminhamento de Aguinaldo. Agendava show, fazia propaganda, oficiava como
locutor de eventos sociais, enfim, era um oficioso a serviço da comunidade.
Na puberdade dos tempos, era um meninão
travesso, alegre, vibrador, cantava a canção da vida. Não raro, chorava num
rasgo de rebeldia, nunca de desespero, mas, já sonhando com a próxima chance,
com o iminente e novo embate, para demonstrar sua força de vontade, na
realização dos seus objetivos, que jamais foram de cunho pessoal. Sempre
procurou engrandecer sua terra, nossa Jardim. Passara alguns anos trabalhando
em São Paulo, tivera desempenho a contento, assumira chefia, ganhara um pouco
de dinheiro com ilibada dignidade. Mas, o banzo, a melancolia tomavam conta do
seu ser, era a saudade ditando o seu estado d`alma, o momento da volta, a visão
telúrica de um rio correndo sob a forma de lâmina cristalina, doce, sempre
agradável para o banho matutino.
Caetana[1] estava solitária, se
apressara, levara Aguinaldo, preenchera o vazio de sua tenda. Mas, como aqui na
terra dos mortais, esta senhora do além, deverá, tenho certeza, contar com os
préstimos do nosso querido Aguinaldo, que com a dignidade que sempre se ofertou
para servir nossa Jardim, também se fará presente nos ritos e eventos da Corte Celestial.
Ainda é minguante/no mês das cobras/2012.
*É Professor de Direito e Escriba da Cena
Sertaneja.
[1] Caetana
– Assim Osvaldo Lamartine, o maior sertanista das nascentes do meu Seridó,
tratava a morte.
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