Nascida a 29 de abril de
1905, no sítio Cachoeira do Anta, município de Jardim de Piranhas-RN. Filho do
casal Emílio Castelar Vale e Lília Delmiro Oliveira do Vale, de família
tradicional no Seridó, o seu pai fazendeiro bem sucedido.
Criada na fazenda onde
nascera teve uma infância como tinham as crianças da época: alfabetizada e
educada para o lar sob os princípios da religião católica. Desta feliz união,
nasceu no dia 23/01/1908 outra menina, chamada Iraci Vale (que foi a mãe de
Willy Saldanha). Seu pai, ficando viúvo, contrai matrimônio com Dona Crispina.
Desse casamento nasceram quatro filhos: Francisca das Chagas Vale (Chaguinha),
Leonir Vale, Valdir Vale e Benedito Vale.
Em 1920, com 15 anos de
idade, Maria Isaura vem nos finais de semana, acompanhada de seu pai, fazer o
curso de corte e costura, que era dado na Casa do Rosário, para as moças da
época. Foi vindo a Jardim que ela conheceu um jovem bonito, chamado Janúncio,
por quem se apaixonara. O seu pai opôs-se firmemente ao namoro. Não havendo consentimento
para namorar, resolveram fugir para casar. Fugiram três vezes: a primeira, o
pai mandou busca-la e a enviou para Natal, onde passou um ano estudando na
Escola Doméstica; a 2ª vez fugiu e foi depositada na casa onde hoje mora Doca
de Bastinha, na rua Velha. O seu pai tinha um irmão que era militar, conseguiu
autorização e colocou soldados de guarda para leva-la a Caicó e depois viajaria
novamente a Natal para a Escola Doméstica. Foi aí que teve sucesso um plano de
ação: a mãe de seu Janúncio, Dona Theodora, e sua filha Mariana, entraram na
casa onde Maria Isaura se encontrava. Ela querendo ver a felicidade de seu
filho, trocou as vestes de sua filha Mariana, com a de sua futura nora, e ainda
conseguiu tirar Maria Isaura de dentro da casa sem que os policiais
percebessem.
No outro dia, quando foram
buscar a “fugitiva”, quem estava no seu lugar era Mariana. Foi aquele alvoroço.
Dona Theodora hospedou Maria Isaura na casa de dona Iaiá Saldanha (mãe de
Marinheiro Saldanha), onde o seu pai não teve coragem de ir busca-la. O motivo
do pai de Maria Isaura não aceitar o casamento era porque sua família era de
condição financeira elevada, e seu Janúncio um jovem motorista profissional.
Mas o amor verdadeiro foi mais forte.
Casaram-se no religioso na
Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, no dia 17 de julho de 1922, sob às bênçãos
do vigário cônego Celso Cicco. Serviram de testemunhas Manoel Cordeiro Vale e
João Dantas Costa. O casamento civil foi realizado no dia 22 de setembro de
1922, pelo Dr. Joaquim Ignácio de Carvalho Filho, Juiz de Direito, na cidade de
CAicó-RN. Testemunhas: Odilon Salvino de Araújo e Manoel Domingos de Medeiros.
Começava, então, uma vida
nova, sua experiência de esposa e dona de casa, tornando-se, com o passar do
tempo, mãe de 11 filhos; sobreviveram seis: Geocy, Gevani, Gevacy (falecido em
1962), Lília, Salete e Greice (falecida ainda criança, em 1947).
Maria Isaura levava uma
vida simples, rodeada de amigos, pois a profissão de seu esposo (comerciante de
tecidos), no Mercado Velho (hoje Casa de Catequese), dava-lhe destaque naquela
cidade pequena...Jardim dos anos 20.
Era uma mulher corajosa,
trabalhava para ajudar na criação e educação de seus filhos. Com apoio de seu
esposo, disposição e amor, enfrentou todas as dificuldades que surgiram a sua
frente. Fazia doces, costurava em sua máquina de cairel, depois Singer, todas
as roupas da família.
Nos finais de semana
gostava de visitar as famílias carentes e os doentes, e quando percebia a
pobreza da família visitada, retornava a sua casa buscando alguma comida,
lençóis e roupas para dá-los àquela mãe carente. Seus gestos cristãos são
lembrados até hoje quando carinhosamente a chamamos de “Madrinha Isaura”.
Mulher de fé e muito
religiosa. A partir de 1925, quando construiu sua casa (hoje residência do
padre), passou a dedicar-se à Igreja. Naquela época, a capela estava quase
abandonada. Assumiu, a pedido do Pe. Celso Cicco, ser a guardiã do SS.
Sacramento: todas as noites ia colocar o óleo do farol do Santíssimo e rezar o
terço. Celebrava o mês de maio com todos ardor e devoção, e o dia mais
esperado, em que toda a comunidade estava presente, era o dia 31, para a
coroação de Nossa Senhora pelos Anjos, tradição que se mantém viva até os dias
de hoje, fruto do seu trabalho. Com o passar dos anos, passou o serviço de
guardiã do Santíssimo para Maria Calixto de Medeiros, onde também ensinou a
conhecer todos os objetos litúrgicos e a purificar os sanguíneos.
Nessa época, além das
festas religiosas tradicionais, colaborava com a tradição da Confraria de Santo
Antônio, e a pedido de seu pai, Emílio Vale, assume a realização da Festa de
Nossa Senhora do Rosário, devoção familiar por graças alcançada.
No dia 03 de julho de 1932,
ela e mais 12 zeladoras do Sagrado Coração de Jesus recebem a fita do Sagrado
Coração de Jesus do Apostolado da Oração, fundado pelo Pe. Luiz Teixeira de
Araújo, e foi eleita a primeira presidente, cargo que assumiu por mais de 40
anos, passando para a senhora Eunice Gonçalves.
Em sua residência,
hospedava padres, frades, e demais autoridades, onde tinha um quarto reservado
somente para os religiosos. Destacamos como hóspedes os bispos: Dom José de
Medeiros Delgado, D. José Adelino Dantas, e D. Manoel Tavares de Araújo, O
Missionário Frei Damião de Bozzano, e o Padre Demontiez (Português), por
ocasião da visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em 1953. Frei
Egídio e Frei Mariano, nas Santas Missões de 1957.
Na época de D. José
Delgado, foi criada a Escola Paroquial São José, “escola dos pobres” como era
chamada, onde Maria Calixto de Medeiros foi a professora. D. Isaura coordenava
e distribuía, com o Apostolado da Oração, o leite em pó para as mães carentes,
além de cestas básicas. Doava-se por inteira por este trabalho social da
Diocese de Caicó. Certamente tinha em mente os ensinamentos de Jesus: o que
fizestes ao menor dos meus irmãos é a mim que estás fazendo.
O seu exemplo de zeladora
do Coração de Jesus e mãe cristã, que passou de geração à geração, resta-nos
agradecer.
Em 1968, faz um pedido
especial a Monsenhor Walfredo Gurgel, (Governador do Estado), por intermédio do
seu filho Geocy Vale de Freitas (Prefeito Municipal), que fosse instalada em
nossa cidade a energia elétrica vinda de Paulo Afonso, a qual foi prontamente
atendida. Segundo depoimento de Geocy “todas as vezes que precisava falar com o
Governador do Estado, as portas estavam aberta”, e ele deve isso a grande
consideração que as autoridades tinham por sua mãe, mesmo sendo de partidos
políticos diferentes.
Lembrar os bons momentos
vividos ao seu lado nos traz saudades e, ao mesmo tempo, o desejo de imitá-la,
para que todos sintam todo o bem que ela em nosso meio semeou.
Dona Maria Isaura cumpriu
com dignidade, sabedoria, fé, paciência, amizade e amor os papéis de mãe, avó e
zeladora fiel do Sagrado Coração de Jesus.
Por tudo isso, ela merece a
nossa atenção, a nossa lembrança, o nosso carinho e a nossa preocupação em
torná-la sempre viva. Partiu desta vida em 21 de junho de 1985, deixando-nos
como maior herança o seu exemplo de MULHER e MÃE. Seja a memória saudosa de sua
vida, nossa luz hoje e sempre.
Fonte:
Revista Jardim em Festa | 1ª Edição – Setembro/2005 – Editor: Geovanne Pereira
| Matéria: José Macário
www.encantosdoserido.com
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