Mais um patrimônio tipicamente seridoense pode vir a a ser no futuro, Patrimônio Imaterial do Brasil, como ocorreu com a Festa de Sant Ana este ano.
Jeane Nesi, superintendente do Iphan/RN, acredita no chouriço como candidato do estado a um registro como patrimônio imaterial, tal qual foram o acarajé da Bahia e o bolo de rolo de Pernambuco. "É fundamental que seja um prato tradicional, que atravesse gerações, seja inédito, e não tenha sido desvirtuado. Esse tipo de patrimônio é avaliado a cada 10 anos, para conferir se mudou alguma coisa", diz. O processo é lento e detalhista. Precisa ter pesquisa profunda para justificar a análise técnica e jurídica, passando por um conselho nacional; são cerca de quatro anos entre trâmites legais. Espera-se que a memória do potiguar seja similar ao apetite. A tapioca de ginga também é um ótimo candidato, encerrou Jeane.
O CHOURIÇO DO SERIDÓ
Tomando o rumo em direção ao sertão potiguar, uma guloseima salta ao paladar: o chouriço. Segundo a professora de arte e antropóloga Maria Isabel Dantas, o doce ainda resiste firme em toda região do Seridó. Ela mesma é filha de uma 'mestra de chouriço', dona Angelita, de 75 anos. A sua experiência rendeu o trabalho de doutorado, "Sabor de sangue - Uma análise sociocultural do chouriço". Esse trabalho também serviu de base para que o Iphan fizesse da Festa de Santana, em Caicó, um patrimônio cultural imaterial. Os bordados e o chouriço são os elementos de destaque.
A própria feitura do chouriço remete a algo primitivo e artesanal. O doce é feito da mistura de sangue e banha (apurada) de porco, rapadura (garapa), farinha de mandioca, castanha de caju moída, leite de coco e especiarias (cravo, canela, gengibre, erva-doce e pimenta-do-reino). Isabel Dantas acredita que o chouriço seja herdeiro do papas de moado, um doce português muito similar. Não há dados oficiais de como surgiu aqui, apenas memoriais, remetendo ao período colonial e seus pioneiros na região. Acari talvez tenha sido o começo.
Fonte: TN
Nenhum comentário:
Postar um comentário