UMA ODE A HEITOR HUMMEL ARAÚJO ELOI DE SOUSA*
Por Jair Elói de Souza *
Por Jair Elói de Souza
Mal ultrapassava a hora do Ângelo, lá estavam eles engajados na pelada noturna na rua. Hoje não os vejo mais, há um vazio, as vozes desapareceram. Meandrando em certa melodia ouvi: “Distante dos olhos aos poucos se esquece e a alegria dos seus amigos não me diverte mais”. Essas duas frases fazem parte de uma interpretação do sedoso Moacir Franco, que coincidentemente trata de uma similaridade dos meninos da Rua Jardim Brasília, comandados pelo saudoso Heitor. Também pudera, nem eles conseguem mais sair de suas casas para a pelada na rua. O babélico linguajar dos meninos da rua nem é sóbrio nem alvissareiro, não mais existe, a sua ausência inibiu os meninos da rua. Um deles me cumprimentou e me disse: leva uma flor pra ele, não consigo matar a saudade, não consigo nem em sonho falar com ele, os deuses têm sido egoístas ou prazerosos, pois, não dividem conosco seus amigos, os prazeres que Heitor lhes ofertou quando lá chegou, nos deixando. Estamos na hora vesperal do natal, os alces se exibem quando são acordados pelos sinos d’além, aproveitam a primeira réstia do sol sobre a brancura da neve, se cobrem de adereços purpúreos e fazem deslizar o trenó até a tenda natalina. Bem que os amigos de Heitor gostariam de saber onde fica essa tenda.
Os prazeres da vida dos que ficaram não inibem a lembrança do seu mais espirituoso e jocoso companheiro que se fora. De indagar-se: porque o céu é um lugar inacessível para as criaturas que sempre fizeram o coletivo aqui na terra? Dizem os sábios da liturgia cristã, que o último aceno, o último meneio, diviniza os bons, os isenta de qualquer sofrimento. E os que ficaram no mar encapelado no finito da vida? A Nau velejando à deriva, o nevoeiro cada vez mais embaçante, a ressaca mais sinistra e traiçoeira. Como encontrar o porto, a mansidão da baía, a serenidade do silêncio? Onde está o cênico da silhueta da grama em maturação na grande planície, onde os deuses observam seus potros na comunhão da vida? Mistério, Enigma ou profecia? Os amantes da vida terrena tentam explicar que fatos dessa natureza já estavam escritos, e de forma sincopada traduzem o epílogo do encontro da vida com a morte, na máxima: Os bons serão sempre breves aqui na terra.
Mas, como ficam os que viviam nas cercanias dessa bondade?A bondade dos justos, o carinho dos generosos, a nobreza que sempre esteve no átrio do seu caráter, são alimento e privilégio apenas do divino? Isso não é uma mera especulação, portanto, é preciso uma aguda leitura. O silêncio da Corte Celestial é obra prima da estação em que os coadjuvantes do Divino meditam sobre os mistérios da fé, o que fazer da silhueta do mundo material, já que a essência da vida, é o sopro que faz a criança chorar ao nascer, é a alegria do pastor que encontra o cordeiro que caíra na fenda do rochedo no penhasco e o salva, a brandura da névoa que esconde os filhotes de antílopes da sanha dos chacais, estando os seus pais colhendo na planície o alimento para si e para os seus rebentos.
Continuo não vendo mais os meninos da rua brincar, gostaria que mesmo em sonho, o celestial fizesse um pacto com as coisas terrenas, e ofertasse um pequeno trailer do bailado dos meninos da rua em alegre pelada.
O Ipê roxo, não mais segura as pétalas em seus buquês, fizera o pacto da maturação e encorpa as suas vargens prenhas de sementes prontas para a germinação nos campos que recebem a brisa dos ventos alísios.
Os pêndulos natalinos fazem a sinfonia da cristandade.
* É PROFESSOR E DIRIGENTE DO CURSO DE DIREITO DA UFRN.
* HEITOR falecera no ano de 2004, fazia o Curso de Direito e era o líder turma, que colou grau em 2008, recebendo o seu nome, a duro travo proferi a aula da saudade.
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