quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Crença popular em rezadeiras persiste apesar dos avanços


Em comum, rezadeiras têm alguns modos de orar, benzendo aqueles que acreditam na crença popular com as mãos ou com plantas, em uma linguagem própria, uma espécie de cochicho ininteligível que mantêm com Deus ou com as entidades enviadas por Ele. Dona Maria do Socorro de Moura de 65 anos tem as mãos calejadas pela vida sacrificada que teve exercendo a atividade de agricultora. Hoje, a enxada foi trocada definitivamente por um raminho de planta popularmente chamado de "ninho". A fé e o galhinho são os seus instrumentos de trabalho na difícil missão de curar as dores alheias através de orações. Desde menina, ela descobriu o dom para rezar. "Eu rezo desde os 10 anos e aprendi com uma parteira que fez o parto da minha mãe. Essa senhora era rezadeira também", disse, acrescentando que a parteira já faleceu há alguns anos, mas deixou à dona Socorro um importante aprendizado.

Apesar de ter uma vida simplória, Socorro dispensa qualquer forma de remuneração na hora de rezar. Os tratamentos espirituais bem-sucedidos não revertem em dinheiro no bolso. Ela os faz pelo sentimento de humanidade, esse é desmedido. "Ave Maria, não cobro nada para rezar. Apesar de ficar doente muitas vezes e até acamada. Já tive de rezar escondido faz algum tempo porque meu marido achava que não me fazia bem o envolvimento com o problema dos outros. Mas foi a vontade de Deus, eu continuo ajudando as pessoas a hora que elas vierem aqui na minha casa", explicou.

Foi com as mãos e a fé que ela diz ter curado através de Deus muitas crianças e adultos. O endereço é realmente disputado. "Só hoje até às 9h, já vieram três pessoas me procurar para eu rezar. Vem muita gente aqui, de muitos bairros, já perdi as contas de quantas pessoas eu ajudei. Muitas mães trazem suas crianças aqui, que mesmo depois de terem passado pelos médicos continuam doentes com febre, vomitando. Mas quem cura é Deus, eu sou só uma serva Dele. Geralmente as crianças aparecem com quebranto e mau olhado", afirmou Socorro.

"Quando minha filha está doente, venho aqui. A reza de dona Socorro é muito boa", confessa a dona de casa Katarina Rebouças ao se referir da filha de apenas cinco meses. A generosidade de dona Socorro não se limita às orações feitas em qualquer hora do dia para quem bater à sua porta, sua própria história de vida dá indícios do grande coração da rezadeira. Basta olhar o semblante dela para ter noção da ternura. "Eu pretendo rezar até enquanto viver, essa é minha missão ajudar as pessoas. Foi o dom que Deus me deu. Antes de me aposentar, eu era agricultora e criei meus cinco filhos, além de quatro crianças necessitadas que eu adotei. Eu gosto de ser útil ao próximo", finalizou a rezadeira.

Ana Karla Farias | Correio da Tarde

Nenhum comentário:

Postar um comentário