Por: Andrielle Mendes | Tribuna do Norte
A desconfiança é a melhor parte do conhecimento. A frase é creditada à Mahatma Gandhi, líder do movimento de independência indiana. De sua autoria ou não, ela representa a sensação vivida pela indústria têxtil e de confecções no Rio Grande do Norte. O setor olha com desconfiança para a redução de encargos da folha de pagamento de cinco setores da Indústria, recém anunciada pelo governo federal. A medida, dizem empresários, pode não surtir o efeito esperado no RN. A indústria têxtil e de confecções, que seria a mais beneficiada com a medida dentro do Estado, ainda não fez os cálculos.
Setor de confecções ainda emprega grande contingente de mão de obra. Em Jardim de Piranhas, oitenta das duzentas tecelagens fecharam nos últimos tempos
De acordo com João Lima, presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem do RN, antes de tomar qualquer partido, é preciso analisar as planilhas e avaliar o real impacto nos custos. O Sindicato ainda não sabe se a redução de encargos trabalhistas reduzirá gastos ou aumentará a produção. "A desoneração passa a vigorar em dezembro. Até lá, cada empresa terá de fazer as contas e ver se a medida aumenta a produção ou reduz os preços".
A medida, que poderia trazer um fôlego extra para o setor, pode não passar de um suspiro, na ótica do presidente da Federação das Indústrias do RN, Flávio Azevedo. O setor, que inclui confecções e emprega quase 40 mil pessoas no estado, enfrenta uma queda gradativa nas exportações, consequência da desvalorização do dólar e da concorrência desleal com produtos chineses. Fatores que atingem pequenos e grandes. Em Jardim de Piranhas, a crise provocou o fechamento de 80 das 200 tecelagens e a demissão de mais de 2 mil pessoas no primeiro semestre de 2011.
A situação, segundo Antônio Dutra, presidente da Cooperativa dos Produtores Têxteis de Jardim de Piranhas, continua a mesma. "Nenhuma tecelagem reabriu. Toda semana tem demissão". Segundo ele, o problema começou com a alta de quase 200% do algodão, no primeiro semestre. Depois disso, o setor "desmantelou-se e não entrou mais no eixo". Antônio não vê uma solução aparente para o problema. Pelo menos, não a curto prazo. "Não sei se esta medida do governo chega até Jardim de Piranhas", confessa.
Segundo Antônio, o fechamento das tecelagens provocou um verdadeiro efeito dominó na região. "Se o empregado não recebe o salário, como vai pagar o supermercado, o frigorífico, a loja de roupa? A cidade onde todo mundo recebia está uma lástima. Quando a tecelagem morre, todos os outros setores morrem também". Antes da crise, as tecelagens de Jardim de Piranhas empregavam 4 mil pessoas. "Este número caiu pela metade", resume Antônio Dutra.
Para piorar a situação, a cooperativa perdeu o convênio com o BNDES. O dinheiro seria usado para construir uma unidade de alvejamento e tingimento de tecidos, mas foi recolhido pelo banco porque Estado e Município não entregaram o prédio que sediaria a unidade a tempo. "Doamos o terreno em 2007, mas o prédio só foi concluído agora. O banco mandou um ofício cancelando o convênio. O serviço está sendo terceirizado".
Segundo Antônio Dutra, com a terceirização, o custo de produção aumentou em 50%. Mas não é apenas a terceirização que preocupa. "A forte concorrência dos produtos asiáticos (China, Singapura, Vietnã, e outros países da região) tem imposto dificuldades à indústria nacional, principalmente nos segmentos têxtil, confecções e vestuário, eletroeletrônico e calçados", esclarece o economista Marcus Guedes.
Para o economista, o baixo preço praticado pelos produtos vindos de fora, agravado com a elevada carga tributária existente no País, faz com que não apenas o setor industrial enfrente dificuldades de mercado, como também outros setores. "O comércio, repassador dos produtos manufaturados, também sente o impacto da presença de produtos estrangeiros aqui comercializados, sem que tenham os mesmos padrões de qualidade do produto nacional", acrescenta Marcus.
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http://tribunadonorte.com.br/noticia/desoneracao-nao-anima-texteis/192281
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