quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

POESIA: 'Quando se canta o Sertão...!'

QUANDO SE CANTA O SERTÃO...!
por JAIR ELOI DE SOUZA*

Quando é chegada a “ hora”,
Repique sinistro é de sino,
Criança sem batizar chora,
Morrendo não tem destino.

No Sertão em noite escura,
Vivendo a quadra chuvosa,
Tem choro da mãe-da-lua,
Surra cachorro a caipora.

Fogão de trempe cozinha,
Telhado tem pucumã,
Bueiro espanta a vizinha,
Na serra há aba e chã.

Toda canga tem canzil,
Carga de besta   caçuá,
Burra maninha tem cio,
Embora sem procriar.
  
A xerófila tem espinho,
Casa velha mangangá,
Juriti fazendo ninho,
Esconde-o do carcará.

Peleja é pra cantador,
No cinzento do Nordeste,
Rede de Santo é andor,
Égua poltrã desembesta.

Prisão de pássaro é gaiola,
Peixe se pesca em puçá,
Tapera não tem bitola,
Vereda,  fojo é pra preá.

Aba de serra é encosta,
Se faz curva é quebrada,
Lama  em  açude  atola,
Se não chove é rachada.

Assum-preto quando chora,
Tem canto em melancolia,
Se canta a sururina perora,
Quão curta é a travessia.

 O Sertão de nunca mais,
Já penou com aguaceiro,
Nunca faltou estiagem,
Gado urra é desespero.

Canto de cambonje é seco,
Escuta-se  na madrugada,
Rasante de tetéo dá medo,
Carão canta compassado.

Botija é mal-assombrada,
Mulinga tem penitência,
Caipora é endiabrada,
Briga em feira desavença.

Mulata jovem é cabrocha,
Cavalo peco é pangaré,
Cabana de palha é choça,
Faca  pequena  é quicé.
  
É Professor do Curso de Direito da UFRN.

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