terça-feira, 17 de julho de 2012

CRÔNICA: Em alpendres da Fazenda Três Riachos

por Jair Elói de Souza
Havia algumas primaveras que não me fazia presente na Fazenda “Três Riachos”, feudo deixado pelo velho Manoel Ambrósio para os seus descendentes. Em tempos não tão distantes, as pescarias matinais eram um atrativo, em especial as tigelas de prenhas curimatãs preparadas nos temperos de cheiro verde e nata fresca, nos limites da mansidão e companheirismo de Chico do Foto, um dileto e especial amigo de um poeta de fino trato, Luiz Eloi de Souza, meu inesquecível pai, aos quais im memoriam, também dedico este pequeno fluido do meu dedilhar literário.

Nessas estações do tempo que se foram, encontrava lá os sucessores da saga sertaneja dos Queiroz; Pedro Ambrósio, Cesino Ambrósio, Padre Ambrósio, Mundinho Lopes, Antônio Cunha, era o cênico de uma Três Riachos partilhada, entre herdeiros e cessionários, mas sempre bem recebido, pois, fica a um passo de ema da Fazenda Braz, pertencente aos herdeiros de Quinca Salvino e Dé Salvino, clã ao qual pertence minha esposa Goretti, que sempre tiveram o melhor convívio com os Ambrósios.


Mas, na tarde de sábado-14 do corrente, me fiz presente no citado feudo, em companhia de Elias Mariano, visitei Elídio e Cristina, e também aos seus, uma festa de alegria, recepção prazerosa. É bem verdade que a gamela de melaço no velho engenho puxado a boi, não pude raspar, escutando os paleios e estórias do saudoso Artur Ambrósio, que tanto fazia alegria dos seus convivas. Mas, pude ver que pequeno canavial ainda se cultiva naquele chão de revência, quem sabe? Futuramente, Elídio, com seu tino de resgatar a memória de sua brava saga, possa voltar a instalar o velho engenho em moenda, a história lhe prestará a mais justa homenagem, assim, como já está compromissada, pelo que fizera, ao construir o templo em memória de um de seus filhos mais brilhantes, com certeza o de obra mais expressiva no campo da solidariedade humana, Padre João Maria.


Ademais, não devo deixar de registrar que foi uma tarde e hora vesperal das mais gratificantes que pude vivenciar. O encontro com Emerson Cavalcanti, conversa solta, leve, afável. Pude receber os melhores meneios e admiração de um jovem jardinense, de nome Edilson, filho do Jeso Patrício Ferreira, de saudosa memória. Rebento que opera nas lides forenses, uma mente privilegiada,  inteligência rara, um espírito que vive na planície da jocosidade, sem ser mordaz, ofensiva, uma alma de bem consigo mesma e admirado pelos pares que vivem a puberdade dos tempos. Também pude ouvir o solfejo de lamento, de toada em melancolia, do aboio reboado de João, filho de Manoel de Pedão, que não deixou de frisar seu apreço pelo conterrâneo Elídio. Coisas dessa natureza me fazem amar ainda mais, minha província nesse bom recanto dos confins do Velho Seridó.


Nesse cenário da melhor estação da oralidade, vieram à tona as presepadas de Juvenal Barão, um velho aldeão do barranco ribeirinho onde se contempla o imperceptível abraço dos velhos Espinharas-Piranhas. Na verdade, em alpendres e adjacências da duo-centenária Três Riachos, havia uma confraria de gerações díspares, porém, todos sintonizados com a expectativa de poderem de forma efetiva, manifestarem seu posicionamento cidadão no próximo pleito, que definirá os destinos políticos de Jardim de Piranhas.


Em mês de Sant'Ana, a lua é minguante/2012.
* É Professor de Direito e Escriba da cena sertaneja. 

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