quinta-feira, 16 de agosto de 2012

CRÔNICA: AGUINALDO: UM LORDE NA CORTE DO ENTRETENIMENTO!

por Jair Elói de Souza
As manhãs de setembro, o canto gregoriano nos missais de domingo, o cênico de florais do altar de Nossa Senhora dos Aflitos, o tom de rebeldia quando alguém tocava a cidadela de sua vaidade na organização dos eventos sociais, são a marca desse ilustre caboclo puxado na cor, chamado Aguinaldo. Ser de memória e lembranças marcantes, alma de devoção e cumplicidade a tudo que se dedicava. A vida do bulir, do movimentar, do tomar parte, de concorrer, de disputar, era seu palco. Empreendedor, inteligente, vida dedicada inteiramente a nossa Jardim. Nutria Indomável amor telúrico, fazia o seu gosto predileto e expansivo nas causas em defesa da terra. Promotor de eventos, cantor, agente de fazer a hora.
Aguinaldo não se intimidava com sua origem pobre. Desbravava o mar tenebroso do preconceito social e racial, irrequieto, amante do desafio, adereçava sua alma com o canto, com a encenação. Adorava o glamour dos desfiles, dos certames em palco, como: “A mais bela voz do Seridó”, versão cabocla dos concursos de calouros nos grandes canais da televisão brasileira, uma estação da descoberta de talentos nas terras dos ipês amarelos. O mundo do entretenimento, por alguns anos em Jardim, tinha a marca, o encaminhamento de Aguinaldo. Agendava show, fazia propaganda, oficiava como locutor de eventos sociais, enfim, era um oficioso a serviço da comunidade.
Na puberdade dos tempos, era um meninão travesso, alegre, vibrador, cantava a canção da vida. Não raro, chorava num rasgo de rebeldia, nunca de desespero, mas, já sonhando com a próxima chance, com o iminente e novo embate, para demonstrar sua força de vontade, na realização dos seus objetivos, que jamais foram de cunho pessoal. Sempre procurou engrandecer sua terra, nossa Jardim. Passara alguns anos trabalhando em São Paulo, tivera desempenho a contento, assumira chefia, ganhara um pouco de dinheiro com ilibada dignidade. Mas, o banzo, a melancolia tomavam conta do seu ser, era a saudade ditando o seu estado d`alma, o momento da volta, a visão telúrica de um rio correndo sob a forma de lâmina cristalina, doce, sempre agradável para o banho matutino.
Caetana[1] estava solitária, se apressara, levara Aguinaldo, preenchera o vazio de sua tenda. Mas, como aqui na terra dos mortais, esta senhora do além, deverá, tenho certeza, contar com os préstimos do nosso querido Aguinaldo, que com a dignidade que sempre se ofertou para servir nossa Jardim, também se fará presente nos ritos e eventos  da Corte Celestial.

Ainda é minguante/no mês das cobras/2012.

*É Professor de Direito e Escriba da Cena Sertaneja.


[1] Caetana – Assim Osvaldo Lamartine, o maior sertanista das nascentes do meu Seridó, tratava a morte.

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