Por Alcimar Araújo
Já deixei registrado neste espaço, em diversas ocasiões, meu amor por Jardim de Piranhas. E não poderia ser diferente. Foi aqui onde vivi uma infância pobre, mas extremamente feliz. As ruas do centro foram meu parque de diversões. O açude de Chico Nicolau, o melhor balneário que já conheci. O campinho de futebol, ao lado do Ginásio Walfredo Gurgel, um verdadeiro Maracanã. Nada me faltava naquela época, pois tinha por perto meus amados familiares, meus inseparáveis amigos e todo um mundo a ser desbravado e conquistado.
Nos últimos 30 anos, acompanhei de perto as transformações por que passou o município. Testemunhei os teares de pau serem substituídos pelos elétricos. Vi as primeiras gotas de água expelidas pelas torneiras. Assisti ao surgimento do CAP e do Independente. Participei ativamente da vida político-partidária, sonhando, em vão, com uma cidade melhor para todos, sem quaisquer distinções.
Por amar tanto esta cidade, às vezes não suporto ouvir calado as críticas que lhe fazem, principalmente quando estas partem de pessoas que aqui não residem. Não foram poucas as vezes em que saí em defesa de Jardim, tentando desfazer a imagem de que moramos em uma cidade violenta, desorganizada, de povo sem educação e propenso a fazer Justiça com as próprias mãos.
Sei que amor de mais cega, mas não podemos perder a razão a ponto de não enxergar o óbvio: Jardim de Piranhas, infelizmente, faz jus à grande maioria das críticas que lhe são feitas. A última enquete realizada por este modesto blog relacionou algumas coisas que nos fazem falta há bastante tempo, mas que estão presentes em cidades bem menores que esta. Se alguém duvida dessa constatação, sugiro visitar Cruzeta, Acari, Carnaúba dos Dantas e Florânia, para citar apenas essas, e ver como Jardim parou no tempo, à espera de não sei o quê.
Ainda nos faltam um barzinho aconchegante, um restaurante sortido e climatizado, um hotel, uma rodoviária, uma área pública para a prática esportiva, um banco, um cursinho pré-vestibular, um curso de línguas, uma escola de natação ou de outros esportes, um centro de velório, um museu, um centro cultural, saneamento básico, praças arborizadas e bem cuidadas, salão para festas e recepções, ruas limpas e livres dos esgotos a céu aberto e dos animais etc. Sonhar com tudo isso é pedir de mais, já que moramos num lugar conhecido pela abundância de carros de luxo?
A realidade é dura e cruel: Jardim não é o paraíso que alguns insistem em propagandear. O município, para nosso desgosto, não acompanhou o crescimento verificado na maioria das urbes de igual ou menor porte. Deixamos de fazer a lição de casa e marchamos timidamente há, pelo menos, umas três décadas. Enfrentamos sérios problemas estruturais que, por motivos que desconheço, ninguém até hoje teve a coragem suficiente para resolvê-los.
Chamar a atenção para nossos problemas, alguns extremamente graves, não pode ser interpretado como falta de afeto por esta querida terra. Muito pelo contrário. Somente os que amam Jardim, verdadeira e incondicionalmente, são capazes de aceitar as críticas feitas ao município pela maioria das pessoas que nos visitam ou aqui vêm a trabalho. Não mais ajamos, pois, como a coruja, que considerava os filhotes as criaturas mais lindas do mundo. Saibamos ouvir opiniões contrárias e delas extrair bons ensinamentos. Afinal, humildade e modéstia são gratuitas e não pagam imposto.
Texto extraído do blog www.alcimar-araujo.blogspot.com
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