por Alcimar da Silva Araújo
Já escrevi um texto semelhante, anos atrás, sobre o fato de o mundo não haver
acabado conforme fora anunciado. Em minha curta jornada nesta vida, já perdi a
conta das vezes em que se profetizou o final dos tempos. Nem sei por que a
mídia e muita gente dá crédito a esse tipo de baboseira. Ainda bem que dá para
se divertir um pouco com a situação, a exemplo do que fez a Rede Globo com o
hilariante “Como Aproveitar o Fim do Mundo”, estrelado por Alinne Moraes e
Danton Mello.
Mas, pensando bem, não teria sido nada mau o mundo ter chegado ao fim ontem.
Analisando-se racionalmente o que se passa no Brasil e no restante do planeta,
constata-se que a vida atual não se mostra muito aprazível. Conflitos armados
no Oriente Médio, crise econômica, graves problemas ambientais, seca no
Nordeste, Corinthians campeão da Libertadores (rsrsrs), tudo isso torna a
convivência na Terra um fardo difícil de suportar.
Aqui em Jardim, de uns vinte anos para cá, não basta contar até 10 para evitar
se envolver em algum conflito. O aumento da criminalidade, a chegada do crack,
a absurda concentração de renda, o descaso com a Educação e a Saúde, a falta de
oportunidades para os jovens, só para citar alguns de nossos crônicos
problemas, contribuem para que os jardinenses vivam cada vez mais intranquilos
e sem esperança.
Esse cenário tenebroso permite uma única conclusão: o mundo deveria ter mesmo
acabado ontem! Deus, em Sua infinita bondade, bem que poderia nos ter
proporcionado esse alívio. Basta de tanto sofrimento e decepção. A raça humana
já deu inúmeras demonstrações de não merecer o precioso dom da vida. Este
planeta, dotado de tantas belezas e riquezas, não merece um inquilino mesquinho
e sórdido como o homem, que, ao longo dos séculos, tratou a Terra com um
desprezo incompreensível.
Quem me conhece, certamente, já percebeu que não falo sério. Os anos que já
vivi me trouxeram alguns quilos a mais e milhares de cabelos brancos; todavia,
não me privaram – ainda – da lucidez. Apenas os lunáticos torceram pela
confirmação da profecia Maia. Não me incluo dentre estes. Ainda que não vivamos
no mundo ideal, prefiro qualquer vida, por pior que seja, à melhor das mortes.
Um único bom momento compensa um dia inteiro de tristezas e sacrifícios. O
beijo recebido à noite, dado por quem se ama, alivia todas as dores. Respirar,
alimentar-se, sorrir, abraçar, contemplar o nascer e o pôr do Sol são alguns
dos inúmeros prazeres a nós proporcionados por este planeta.
O mundo que deveria ter acabado ontem era o da fome, o da ambição desmedida, o
do individualismo, o da falta de caráter, o da intolerância, o do desrespeito,
o da soberba, o do desamor. Se esses mundos houvessem desaparecido, não mais
assistiríamos, doravante, a homens e mulheres digladiando-se por mais poder e
riquezas. Não mais seríamos testemunhas de cenas degradantes, como as que se
viram durante a disputa eleitoral deste ano. A educação, o respeito, a
civilidade e o mérito, finalmente, seriam valorizados como merecem. E, enfim,
nosso querido Jardim de Piranhas se tornaria o melhor dos mundos, por toda a
eternidade.
Feliz Natal a todos! Desejo-lhes um novo ano de muita paz, saúde e amor. E que
todos nós, juntos, esforcemo-nos para tornar este mundo um lugar melhor de se
viver.
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